Os Ikpeng são um povo de língua karib que ocupou a região dos rios formadores do Xingu no início do século XX, quando viviam em estado de guerra com seus vizinhos alto-xinguanos. O contato com o mundo dos brancos foi ainda mais recente, no início da década de 1960, o que provocou uma desastrosa redução de sua população em menos da metade em razão de doenças e morte por armas de fogo. Foram então transferidos para os limites do Parque Indígena do Xingu e “pacificados” pela ação dos irmãos Villas-Boas.
Hoje os Ikpeng somam cerca de 477 índios, distribuídos em uma aldeia e dois postos da administração da Funai no interior do Parque, mantendo relações pacíficas e de aliança com seus vizinhos. Contudo, mantêm no cerne de sua visão de mundo a guerra e a relação com os mortos como o principal motor de reprodução da vida social.
O modelo da aldeia ikpeng tem como centro cerimonial a “lua” ou praça ritual, constituída como uma elipse com dois fogos. Nela há ainda uma cabana coberta com um teto de duas águas e sem parede, o mungnie, que não é uma casa de homens, como no modelo alto-xinguano, pois geralmente permite o acesso das mulheres. Nessa casa são produzidos os principais artefatos da cultura material, ensaiam-se as cerimônias, os amigos se reúnem para beber e comer e se confecciona o otxilat, peça plumária de cabeça que identifica o guerreiro.
A maioria dos Ikpeng possui individualmente uma longa lista de nomes (entre seis e quinze, uma dúzia em média). A cadeia de nomes de cada um é recitada em um ritual (orengo eganoptovo: “recitação de nomes”) relacionado com a cerimônia do regresso de uma expedição guerreira bem-sucedida; ou então é recitada em ocasiões muito formais em que um “grande” (que não é designado como “chefe”, pois o termo não é adequado) expressa a fala do grupo, através de formas especiais.
Dentre os povos que habitam o Parque, os Ikpeng são os que mais têm valorizado a educação escolar. Em 1994, com o auxílio de linguistas, os professores ikpeng elaboraram uma escrita. Essa escrita ikpeng tem sido muito usada pelos alunos, que também aprendem a língua portuguesa, falada com fluência pela maioria da população. A escola ikpeng adquiriu um papel central no Parque, sendo responsável pela aquisição de materiais escolares e sua distribuição para as demais aldeias do Médio Xingu.
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