Naine Terena
atua nas áreas de cultura, comunicação e educação, promovendo as artes
indígenas e não-indígenas e pesquisando o diálogo que existe entre elas. Nascida
em Cuiabá, Mato Grosso, ela é graduada em comunicação social pela UFMT, fez
mestrado em artes na UnB e doutorado em educação na PUC-SP. Conversamos com ela
a respeito das relações entre as artes indígenas e a cultura brasileira de forma
mais ampla. Veja a seguir:
O que te levou a trabalhar com arte, tanto
na criação como na produção e divulgação?
Comecei a me
envolver com artes antes da graduação. Tínhamos (eu e minha irmã) um grupo
de teatro em Cuiabá, no bairro onde moramos. Era um grupo com crianças e jovens
e contávamos com 'paitrocínio' e todos fazíamos vendas, rifas e outras ações
para sustentar os trabalhos. Como sempre gostei de escrever, comecei a criar as
peças que encenávamos. A formação superior deu um suporte maior para a
compreensão da arte. Tive um insight sobre a expressão corporal e a encenação
quando vi a dança do Kipaé (uma dança
Terena), e propus uma pesquisa de mestrado que me mostrou muito além do que eu
estava investigando. Foi a oportunidade de relatar algo sobre a constituição da
minha própria identidade. Fui assessora da Secretaria de Estado de Cultura de
Mato Grosso. Estive e estou envolvida com muitos artistas. Alguns tornaram-se
clientes, parceiros, organizadores de eventos conjuntos. Deixei um pouco minha
produção de lado, porém ela acabou transmutando para as pesquisas acadêmicas
(penso eu). De 2015 para cá que eu resolvi retomar este trajeto. Buscar coisas
que fiz e que pretendo fazer.
Como você sabe, somos uma coleção de bancos
indígenas. Na cultura Terena existe alguma tradição de se fazer e usar este
tipo de mobiliário?
Vi algumas
coisas mais recentes, com marceneiros mais contemporâneos. Temos tecelãs,
ceramistas exímias... Mas os bancos nesse estilo estético, desconheço uma
raiz mais antiga.
A seu ver, qual é a influência da arte
indígena nas artes moderna e contemporânea brasileiras?
Tem várias.
O grafismo tem influenciado inclusive a moda. Instalações tem utilizado a
presença de indígenas numa performance coletiva. Músicas fazem uma hibridação
de sons indígenas e não indígenas. Grafites trazem personagens indígenas no
centro de suas temáticas. Temos muitas inspirações. Conheci pessoalmente o
Ernesto Neto e o trabalho com os indígenas do povo Pano. Um trabalho minucioso
e que tem muita profundidade.
Pode-se dizer que existe hoje um movimento de indígenas que estão se apropriando das linguagens e ferramentas da cultura ocidental para falarem por si e pelo seu povo, construindo as suas próprias narrativas. Você se vê parte deste processo?
Sim. Em todas as ciências temos um indígena adquirindo conhecimento. Um dia desses vi a notícia de um rapaz que graduou-se em enfermagem e usa processos de medicina indígena. Na comunicação temos bastante indígenas e grupos atuando. A Rádio Yandê é sempre uma boa referência, porque tem um alcance internacional. Eu faço parte desse grupo, de pessoas que estão todos os dias em busca de novos conhecimentos e em contato com o pessoal que está um pouco mais afastado, dialogando, ouvindo, falando...
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