Conheça o artista Kulikyrda Mehinaku

06/09/2018
  • Artista: Kulikyrda
  • Banco em forma de arraia feita por Kulikyrda
  • Banco em forma de Arraia feito por Kulikyrda Mehinaku. Fotografia: Rafael Costa
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  • Artista: Kulikyrda
  • Banco em forma de arraia feita por Kulikyrda
  • Banco em forma de Arraia feito por Kulikyrda Mehinaku. Fotografia: Rafael Costa

Para a população que não fala a língua indígena Mehinaku, Kulikyrda se apresenta como Stive. Nascido em 1985, além de artista, ele é técnico em agroecologia, Agente Indígena de Saúde (Ais) e já foi artilheiro do campeonato de futebol do município de Gaúcha do Norte, MT. Neste ano, expôs a sua obra nas exposições da coleção BEI “Bancos Indígenas do Brasil”, realizada no Pavilhão Japonês do Parque Ibirapuera em São Paulo, e “Benches of the Brazilian Indigenous Peoples: Human Imagination and Wildlife”, no Museu Teien, em Tóquio, Japão.

Stive nos contou um pouco de sua história, motivações e aprendizagem da produção de bancos. Veja seu relato abaixo:

Durante minha adolescência, por volta dos 13 anos de idade, eu comecei a fazer bancos.

Os motivos foram dois: primeiro, o meu povo Mehinaku já tinha costume de fazer bancos para uso próprio, dentro da oca. Segundo, para comercializar. Cada família se beneficiava com as vendas, que, na época, eram o único jeito de ganhar dinheiro para comprar seus pertences, como roupas, redes de dormir, cobertores, anzóis, espingarda, motor de popa, bicicleta e moto, etc. Isso me motivou muito a fazer bancos.

Meus tios e meus primos viajavam ao estado de São Paulo para vender. Daí me chamou mais atenção e passei a assistir a produção deles, como era a transformação de toras de madeiras em várias formas de animais, quais madeiras eram escolhidas, etc.

E fui me aproximando mais dos outros artistas da aldeia. Quando eles faziam os bancos próximos à sua oca, eu me aproximava para assistir seu trabalho, conversava, perguntava como eram feitos. E fui acompanhando, vendo os detalhamentos até chegar à pintura. Eu já ficava curioso para saber e aprender logo. Neste tempo de aproximação, fui aprendendo com eles, só olhando como faziam.

A partir daí comecei a colocar na prática o minha aprendizagem, sem precisar de alguém pra me ajudar e me ensinar. Escolhia fazer tamanhos médios e grandes. Eu fazia vários formatos de animais, sabendo que a venda era importante para ganhar dinheiro. Depois, eu oferecia os meus bancos para as pessoas que viajavam para São Paulo venderem pra mim. Eles conseguiam vender mesmo! Quando eles voltavam de viagem eu recebia o meu dinheiro. E fui vendo que vender bancos realmente era um jeito de eu me beneficiar e comprar meus pertences.

E assim aprendi, fazendo os bancos. Continuei produzindo e melhorando meus trabalhos, aprendendo sozinho. Não houve uma pessoa principal que me ensinou, eu aprendi somente olhando os artistas Mehinaku. Não aprendi com meu pai, aprendi sozinho mesmo, meu pai só fazia bancos de pajé e gavião duas cabeças. E cestaria de vez em quando. 

Além de bancos, hoje eu faço remo, ralo, máscaras, zunidor, ralador de mandioca, pá de beiju, estátua, borduna, cabeçudo e arco e flecha para as crianças.”


Veja os bancos de Kulikyrda da coleção aqui.

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