Para a população que não fala a língua indígena Mehinaku, Kulikyrda
se apresenta como Stive. Nascido em 1985, além de artista, ele é técnico em
agroecologia, Agente Indígena de Saúde (Ais) e já foi artilheiro do campeonato
de futebol do município de Gaúcha do Norte, MT. Neste ano, expôs a sua obra nas
exposições da coleção BEI “Bancos Indígenas do Brasil”, realizada no Pavilhão
Japonês do Parque Ibirapuera em São Paulo, e “Benches of the Brazilian Indigenous Peoples: Human Imagination and
Wildlife”, no Museu Teien, em Tóquio, Japão.
Stive nos contou um pouco de sua história, motivações e
aprendizagem da produção de bancos. Veja seu relato abaixo:
“Durante minha adolescência, por volta dos 13 anos de idade, eu comecei
a fazer bancos.
Os motivos foram dois: primeiro, o meu povo Mehinaku já tinha costume
de fazer bancos para uso próprio, dentro da oca. Segundo, para comercializar. Cada
família se beneficiava com as vendas, que, na época, eram o único jeito de
ganhar dinheiro para comprar seus pertences, como roupas, redes de dormir,
cobertores, anzóis, espingarda, motor de popa, bicicleta e moto, etc. Isso me
motivou muito a fazer bancos.
Meus tios e meus primos viajavam ao estado de São Paulo para vender.
Daí me chamou mais atenção e passei a assistir a produção deles, como era a
transformação de toras de madeiras em várias formas de animais, quais madeiras eram
escolhidas, etc.
E fui me aproximando mais dos outros artistas da aldeia. Quando eles
faziam os bancos próximos à sua oca, eu me aproximava para assistir seu
trabalho, conversava, perguntava como eram feitos. E fui acompanhando, vendo os
detalhamentos até chegar à pintura. Eu já ficava curioso para saber e aprender logo.
Neste tempo de aproximação, fui aprendendo com eles, só olhando como faziam.
A partir daí comecei a colocar na prática o minha aprendizagem, sem
precisar de alguém pra me ajudar e me ensinar. Escolhia fazer tamanhos médios e
grandes. Eu fazia vários formatos de animais, sabendo que a venda era
importante para ganhar dinheiro. Depois, eu oferecia os meus bancos para as
pessoas que viajavam para São Paulo venderem pra mim. Eles conseguiam vender
mesmo! Quando eles voltavam de viagem eu recebia o meu dinheiro. E fui vendo
que vender bancos realmente era um jeito de eu me beneficiar e comprar meus pertences.
E assim aprendi, fazendo os bancos. Continuei produzindo e melhorando
meus trabalhos, aprendendo sozinho. Não houve uma pessoa principal que me
ensinou, eu aprendi somente olhando os artistas Mehinaku. Não aprendi com meu
pai, aprendi sozinho mesmo, meu pai só fazia bancos de pajé e gavião duas
cabeças. E cestaria de vez em quando.
Além de bancos, hoje eu faço remo, ralo, máscaras, zunidor, ralador de mandioca, pá de beiju, estátua, borduna, cabeçudo e arco e flecha para as crianças.”
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