O artista Kawakanamu Mehinaku nos deu um relato sobre a sua relação com a arte,
desde o aprendizado da técnica de esculpir madeira até a atual divulgação e
comercialização de seus bancos:
"Meu
nome é Kawakanamu Mehinako, nascido na aldeia Xalapapühü em 10 de abril de
1962. Sou artista e designer em estética em bancos de madeira usados para
sentar e sou especialista em confecção de peças artesanais como: cestarias,
arte plumária e colares. Há quatro anos resido na aldeia Kaupüna, localizada na
Terra Indígena Xingu, no município de Gaúcha do Norte – MT
A primeira
peça que aprendi a confeccionar foi um cesto feito de talo de buriti, aos 15
anos de idade. Por isso, sou especialista em cestaria. Nesse tempo, não tinha
aprendido esculpir os bancos devido à pequena quantidade de pessoas que se
dedicavam à produção desse tipo de arte.
Na aldeia
Xalapapühü, comecei esculpindo um banco na forma de gavião sem o ensinamento de
outros artistas. Também me dediquei a fazer bancos tradicionais de pajé e
outros caracterizados com desenhos de pássaros. Nesse tempo, ninguém aprendia a
fazer bancos de outros animais por falta de ferramentas. Era difícil viajar
pois as cidades ficavam distantes do Território Indígena do Xingu e os acessos
às estradas eram escassos. Algumas vezes, eu acompanhava e observava os
trabalhos de outros artistas sem a necessidade de auxílios, assim aprendi a
pintar os bancos com grafismos tradicionais da própria tinta de resina da
árvore ingá misturada com carvão e água.
Pela
primeira vez, vendi os meus produtos de arte para uma compradora de artesanatos
chamada Verinha, que era responsável e servidora da loja Artíndia, subordinada
pela Fundação Nacional do Índio – FUNAI. As vendas ocorriam no Posto
Leonardo Villas Boas, onde os artistas se encontravam. Com esse recurso passei
a comprar materiais e utensílios: facão, machado, lima, anzóis, bicicleta,
panelas e outros produtos.
Quando mudei
para aldeia Uyaipiuku, comecei a viajar com facilidade para capitais como
Cuiabá, São Paulo, Brasília e Rio de Janeiro, levando os produtos de artes para
vender: bancos, remos, máscaras de madeiras, cestos de carregar mandioca,
cestos de pescaria, pá de beiju, borduna, zunidor, máscaras de linhas de
barbantes, colares de tucum, pulseiras e outras peças. Assim desenvolvi a minha
autonomia com a capacidade profissional de esculpir os bancos de tamanhos
variados nas formas de mamíferos, pássaros e peixes. Através disso, conheci os
clientes das lojas, e eles começaram a encomendar peças para revendas. As
ferramentas que passaram a estar disponíveis facilitaram as práticas de
produções de bancos. Por necessidade, ensinei meus filhos Yatapi, Mayawari,
Yaruru e Penuan a se dedicarem às artes para que seguissem a minha
especialidade.
As madeiras
usadas são: ami (família de lixeira), kawüxüpehi (lixeira) do campo limpo e
cerrado, (tsiyaka,) piranheira e (kĩpietü) sucupira e moreira, da mata alta. Na
aldeia Utawana, usei a madeira mawayakuma, que se localiza na margem de mata
ciliar do rio Kurisevo, dos lagos e das lagoas.
Conforme minha
compreensão, os produtos de arte fazem parte do que vem de nossos antepassados
e representam a identidade mehinaku. Portanto, tenho orgulho de ser artista
genial nativo. Sem a necessidade de estudar o conhecimento cientifico, meu
aprendizado vem da dedicação através da prática.
Publicamente
estou divulgando meu ponto de vista para a sociedade brasileira valorizar e
reconhecer os artistas indígenas, tanto como as obras de arte. Cada tribo
indígena tem seu produto de arte que caracteriza a identificação dos símbolos
de determinado povo. De modo geral, peço a todos quando se interessem em operar
nossos produtos que paguem com preços justos porque as peças têm grande valor,
com origem em nossos antepassados e utilizadas no cotidiano da aldeia. "
Veja os bancos de Kawakanamu presentes na coleção aqui e cenas dele pintando um banco aqui.
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